Há muito, muito tempo atrás, eu fiz uma pesquisa na internet em busca de artigos e fotos de manuseios de fisioterapia com bolas suíças para o tratamento de crianças. Encontrei dezenas de artigos sobre fitness, alguns poucos sobre o uso de bolas suíças em pacientes adultos com disfunção neurológica e praticamente nada sobre o uso desse recurso em pacientes pediátricos.
Diante da escassez de informações sobre o tema, eu resolvi escrever algumas linhas que em pouco tempo se transformaram em parágrafos e depois neste humilde texto de revisão sobre o uso de Bolas Suíças em reabilitação. Espero que gostem.
O que é a bola suíça?
A Bola Suíça é um recurso terapêutico amplamente utilizado por fisioterapeutas no mundo inteiro, sendo empregada no tratamento de pacientes com as mais variadas condições. As chamadas bolas Suíças são esferas infláveis fabricadas em vinil de alta resistência. Estas bolas são conhecidas por diversos nomes; entre eles: Bola Bobath, Bola de Estimulação, Bola Terapêutica, Gym, Yoga ou Fitness Ball, e mais recentemente também como Bola Pilates.
Devido à sua versatilidade, as Bolas Suíças podem ser utilizadas no processo de reabilitação de pacientes com lesão neurológica, ortopédica, podem também ser usadas em pacientes pediátricos, bem como para o condicionamento físico (fitness), e também em alguns pacientes ainda na Unidade de Terapia Intensiva. Sua indicação mais clássica é para o tratamento de crianças com disfunções neuromotoras, sendo que muitas pessoas associam a Bola Suíça à fisioterapia pediátrica quase como se fossem sinônimos. Não é a toa que ela é conhecida como Bola Bobath.
Ao contrário do que seu nome sugere, essas bolas de vinil não foram inventadas na Suíça. Este equipamento foi originalmente desenvolvido na Itália em 1963 como um brinquedo chamado Pezzi Ball. A denominação de Bola Suíça provavelmente se originou de fisioterapeutas Norte-Americanos que aprenderam sobre os princípios dos exercícios com bolas desenvolvidos por Susanne Klein-Vogelbach (sendo ela própria Suíça) enquanto trabalhavam ou estudavam na Europa. A Dra Klein-Vogelbach e seus alunos de fisioterapia analisaram e descreveram os exercícios com bolas que tinham como meta estimular movimentos e reações de equilíbrio especialmente em crianças com paralisia cerebral.
A liberdade de movimentos proporcionada pelo deslocamento da bola ao redor de um ponto central no solo oferece ao fisioterapeuta a possibilidade de desafiar o equilíbrio, a coordenação e a força muscular do paciente em uma variedade espantosa de manuseios. O grau de ativação muscular necessária para manter o equilíbrio e completar o exercício proposto sobre uma base instável é muito maior do que o mesmo exercício realizado sobre o solo. Entretanto, nem todos os manuseios impõem um grau de dificuldade ao paciente. Com a Bola também é possível facilitar alguns movimentos de tronco, extremidades e cabeça. Estas facilitações são particularmente úteis em crianças com disfunção neuromotora.
Quando se faz uso da Bola Suíça para o tratamento de crianças é preciso ter em mente que o objetivo final de qualquer programa de reabilitação é reduzir os efeitos das incapacidades físicas, psicológicas e intelectuais, tornando o indivíduo o mais funcional possível. Não raro, o tratamento destas crianças estende-se por anos a fio e, naturalmente o ambiente terapêutico deve ser motivador e estimulante. Neste sentido, as atividades terapêuticas desenvolvidas com a Bola Suíça podem vir a oferecer uma alternativa lúdica capaz de combinar terapia e diversão. Crianças gostam de novidades, e crianças com disfunções neuromotoras não são exceção.
As bolas Suíças são extremamente versáteis, permitindo inúmeras variações e adaptações nos exercícios, podendo ser usadas em conjunto com bancos, rolos e mesmo duas bolas simultaneamente. Adquirir um entendimento da adequado da bola e de como utilizá-la permite ao fisioterapeuta escolher ou criar os exercícios que satisfaçam as necessidades de seus pacientes. Neste sentido, uma das poucas regras que devem ser seguidas ao se trabalhar com bolas é que não é o paciente que deve se adaptar ao exercício, mas sim o exercício que deve se adaptar ao paciente (palavras da própria Susanne Vogelbach ).
A Bola Suíça possui duas características que garantem a sua versatilidade como recurso terapêutico:
(1) Sua forma arredondada, a qual permite que seja rolada em qualquer direção, e
(2) O seu tamanho, o qual garante uma área de superfície ampla o suficiente para trabalhar com o paciente sentado ou mesmo deitado sobre a bola.
As atividades desenvolvidas sobre uma superfície instável estimulam a integração de informações visuais, vestibulares e somatossensoriais. As respostas motoras obtidas durante o manuseio podem ser direcionadas de modo a facilitar as reações de equilíbrio, de proteção, os ajustes posturais; ou simplesmente direcionadas para o ganho de força muscular.
Cuidados para a Prática Segura
Existem alguns cuidados que devem ser respeitados em relação ao atendimento de crianças utilizando as Bolas Suíças. Uma vez que as bolas podem rolar para todas as direções, os fisioterapeutas devem estar atentos o tempo todo a segurança dos pacientes. É também importante estar atento a algumas precauções e contra-indicações.
=== O atendimento deve ser realizado preferencialmente em ambiente com piso antiderrapante. Caso o local não conte com esta infra estrutura, pode-se utilizar tatames emborrachados ou colchonetes antiderrapantes. Este cuidado é importante uma vez que os pisos de cerâmica fazem com que a bola deslize, dificultando o controle da bola e consequentemente pondo em risco a segurança do paciente.
=== O tamanho da bola será determinado pelo tipo de manuseio a ser utilizado. De modo geral, as bolas de 60cm ou maiores permitem que crianças sejam estimuladas na postura sentada e também realizem transferências de sentado para deitado por sobre a bola (naturalmente, esse manuseio depende do tamanho da criança) Entretanto, se o objetivo for desenvolver um trabalho onde a criança precise sentar-se e apoiar os pés no solo, neste caso uma bola menor deve ser utilizada. O diâmetro deve ser aquele que permita à criança sentar-se formando um ângulo de 90º de flexão de quadris e joelhos.
=== É importante inflar as bolas até que fiquem firmes. Assim poderão rolar facilmente. Para isto, podem ser usados compressor de ar, uma bomba de inflar ou o próprio pulmão do estagiário; o que for mais fácil.
=== Pacientes com Derivações Ventriculares devem evitar posições que tendam à manter a cabeça abaixo do tronco. Em outras palavras: Devem permanecer sempre com a cabeça elevada durante os manuseios.
=== Pacientes gastrostomizados não devem ser posicionados em prono sobre a bola, a não ser que você tenha muita segurança no que está fazendo.
=== Embora as Bolas Suíças sejam um atrativo para muitas crianças, existem aquelas que se apavoram com a instabilidade gerada pela bola. Pacientes com medo não devem ser forçados a permanecer na bola.
=== As Bolas Suíças devem ser mantidas sempre limpas para evitar o risco de contaminação.
Conclusão
As Bolas Suíças são um recurso terapêutico extremamente versátil e amplamente utilizado na prática fisioterapêutica, apresentando aplicações que abrangem desde o tratamento de disfunções neuromotoras em crianças até o condicionamento físico de adultos e idosos. Seu design simples permite que sejam integradas em diferentes contextos clínicos, atendendo a uma vasta gama de necessidades terapêuticas, desde a reabilitação de pacientes neurológicos até estúdios de pilates. Apesar de sua simplicidade aparente, o uso seguro e eficaz das bolas requer um conhecimento técnico aprofundado por parte do fisioterapeuta, bem como criatividade e habilidade para adaptar os exercícios de acordo com as características e limitações de cada paciente.
Dessa forma, ao proporcionar um ambiente terapêutico dinâmico, motivador e lúdico, fisioterapeutas são capazes de aumentar o engajamento e a adesão ao tratamento, promovendo a evolução das capacidades motoras e funcionais dos pacientes de maneira mais eficiente e agradável. Além disso, a liberdade de movimentos oferecida pela bola facilita a realização de manuseios que estimulam o equilíbrio, a coordenação motora, a força muscular e a integração sensorial, potencializando os resultados clínicos. Portanto, compreender detalhadamente suas características, indicações, contraindicações e formas de utilização é fundamental para maximizar os benefícios desse recurso terapêutico em diferentes áreas da fisioterapia, tornando-se um aliado valioso no processo de reabilitação.