Escápula alada por lesão do nervo torácico longo

INTRODUÇÃO

A escápula alada é o nome dado uma disfunção dos músculos responsáveis por estabilizar a escápula ao tórax. Quando esses músculos não realizam sua função adequadamente, a borda medial da escápula pode se projetar, como se estivesse prestes a perder o contato com o tórax, de uma forma que lembra uma “asa” – daí o nome escápula alada.

Como você deve se lembrar, a escápula é um osso que faz parte da cintura escapular e que se conecta ao corpo por meio de duas articulações: (1) a articulação acromioclavicular, e (2) a articulação escapulotoracica. A articulação acromioclavicular é uma articulação sinovial plana, que conecta o acrômio da escápula à clavícula enquanto que a articulação escapulotorácica é considerada uma articulação funcional (também chamada de pseudoarticulação). Isso porque essa articulação não apresenta as características anatômicas comuns às demais articulações, como união por tecidos fibrosos, cartilaginosos ou sinoviais.

A articulação escapulotoracica consiste na escápula e nos músculos que cobrem a superfície da parede torácica posterior. Pois bem, aqui chegamos ao primeiro ponto importante: Tirando a ligação com a clavícula, a escápula é quase completamente estabilizada por suas inserções musculares.

A escápula tem a função de suportar cargas elevadas geradas pelo membro superior. Dos 17 músculos que se conectam à escápula, 6 deles (trapézio, serrátil anterior, elevador da escápula, rombóide maior e menor e peitoral menor) são responsáveis pela estabilização da articulação escapulotorácica. SPOILER: A disfunção do serrátil anterior, trapézio e rombóides é uma causa reconhecida de escápula alada!. A propósito: Uma das primeiras coisas que descobri ao pesquisar sobre a escápula alada foi que esse tema é muito vasto. Portanto, para fins didáticos, essa postagem irá se dedicar apenas ao tipo mais comum de escápula alada descrita nos livros e artigos: a escápula alada causada por lesão do nervo torácico longo.

Nervo torácico longo

O nervo torácico longo é um nervo exclusivamente motor. Ele se origina nas raízes nervosas de C5-C7 do plexo braquial, as quais se unem em um único nervo que toma um sentido descendente perfurando o músculo escaleno médio. A partir daí, segue profundamente sob a clavícula, e continua acima do músculo peitoral menor. Anteriormente, o nervo é protegido pelo músculo peitoral maior e, posteriormente, pelo músculo subescapular. No nível das costelas 4-5, ele emerge e passa à frente do músculo grande dorsal. Outra característica desse nervo é que ele inerva apenas um único músculo: o serrátil anterior.

Músculo serrátil anterior
O músculo serrátil anterior se origina das costelas 1-9 e se fixa no ângulo superior, no bordo medial e no ângulo inferior da escápula. Suas funções incluem manter a escápula firmemente contra o tórax, realizar a rotação lateral e abdução da escápula.

As fibras provenientes das costelas 1-4 fixam-se no bordo medial, enquanto as fibras restantes se fixam principalmente no ângulo inferior. Este último, em particular, contribui significativamente para a rotação lateral da escápula. A fraqueza ou paralisia do Serrátil Anterior é a causa mais comum de escápula alada.

Escápula Alada – exame físico

A primeira etapa de avaliação é a observação da região da região dorsal do paciente. O alinhamento das escápulas é avaliado por meio da identificação das proeminências ósseas ao repouso, com atenção especial aos ângulos superior e inferior e às bordas mediais. As bordas mediais da escápula devem estar aproximadamente paralelas à coluna vertebral ou ligeiramente inclinadas e não devem ser proeminentes. Na imagem abaixo vemos uma pessoa com projeção das bordas medias das escápulas. É exatamente isso que chamamos de escápula alada.

Avaliação dinâmica
Teste de força do músculo serrátil anterior:
Solicite ao paciente que fique de frente para uma parede e que apóie a mão na parede, com o braço esticado e paralelo ao chão. Instrua o paciente a empurrar a parede com a palma da mão do lado afetado. Uma protrusão da porção medial da escápula deverá ser aparente, indicando paralisia do músculo serrátil anterior.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora existam outras etiologias para a escápula alada, o mecanismo envolvendo fraqueza do serrátil anterior é um excelente modelo didático para compreender essa disfunção. A compreensão da anatomia, cinesiologia e patocinesiologia desse músculo é essencial para que o profissional de saúde possa elaborar exercícios que visem especificamente e desafiem esse músculo em contextos de reabilitação.

Existe um livro que eu gosto muito para estudar essas disfunções mecânicas/posturais. O livro se chama “Diagnóstico e tratamento das síndromes de disfunção motora” (o nome é esquisito, eu sei, mas o conteúdo é excelente) esse livro é difícil de achar. No omento ele está esgotado na Amazon, mas mesmo assim vou deixar o link aqui embaixo junto com o link de outros livros que considero importantes para quem está estudando ou já atuando em fisioterapia ortopédica.

REFERÊNCIAS
Clinical assessment methods for scapular positioning and function. An inter-rater reliability study. PHYSIOTHERAPY THEORY AND PRACTICE 2019

Can clinical observation differentiate individuals with and without scapular dyskinesis? Braz J Phys Ther. 2014 May-June; 18(3):282-289

Kinesiologic considerations for targeting activation of scapulothoracic muscles – part 1: serratus anterior. Brazilian Journal of Physical Therapy 2019;23(6):459—466

Scapular winging: anatomical review, diagnosis, and treatments. Curr Rev Musculoskelet Med (2008) 1:1–11

Anatomy, Etiology, and Management of Scapular Winging. Hand Surg Am. 2018


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