Fisioterapia Aquática: Uma especialidade Atraente para a Reabilitação

O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO tem a função de normatizar e exercer o controle ético, científico e social das profissões de Fisioterapeuta e de Terapeuta Ocupacional em todo o território nacional. Em setembro de 2014, a Fisioterapia Aquática foi reconhecida como especialidade, sendo concedido o  título de Especialista Profissional em Fisioterapia Aquática aos fisioterapeutas aprovados no Exame Nacional para Concessão do Título.

A fisioterapia aquática é uma abordagem que faz uso de algumas das propriedades físicas e fisiológicas da água para a reabilitação. O ambiente aquático oferece uma série de benefícios que podem ser bastante interessantes para a realização de exercícios terapêuticos. Nesta postagem, tentarei explorar algumas características da fisioterapia aquática, bem como sua história, princípios, indicações, contraindicações e muito mais.

História da Fisioterapia Aquática

A utilização da submersão de parte do corpo na água para fins terapêuticos remonta a civilizações antigas. Os egípcios, gregos e romanos já reconheciam os efeitos benéficos da água quente e fria em tratamentos de saúde. Nesse contexto é interessante notar que a hidroterapia, que é um conceito mais amplo, abrange a utilização da água em diferentes temperaturas e inclusive com diferentes concentrações de sais minerais, enquanto a fisioterapia aquática se concentra especificamente na reabilitação física.

No século XX, a fisioterapia aquática começou a ser formalizada como uma especialidade. O reconhecimento pelo COFFITO ocorreu ao longo das últimas décadas, quando se tornou evidente a eficácia dessa abordagem na reabilitação de diversas condições. Atualmente, a fisioterapia aquática é uma prática estabelecida em clínicas e alguns hospitais, oferecendo uma alternativa valiosa para pacientes em recuperação neurológica e musculoesquelética.

Princípios da Fisioterapia Aquática

Os atendimentos de fisioterapia aquática acontecem em uma piscina terapêutica aquecida, preparada e adaptada para utilizar os benefícios terapêuticos da água.

  • Flutuabilidade – como o próprio nome indica, trata-se da capacidade de flutuação do corpo ou parte do corpo submerso na água. A densidade da água é 1 e todos os corpos com densidade inferior a 1, flutuam. O corpo humano possui densidade relativa de cerca de 0,93 e por isso ele flutua. A flutuabilidade reduz o impacto sobre as articulações, permitindo que os pacientes realizem exercícios que seriam difíceis ou impossíveis em solo. Isso é especialmente importante para pessoas com lesões ortopédicas, fraqueza muscular ou limitações de movimento.
  • Resistência – é uma força de sentido contrário ao movimento, com intensidade igual ao peso do volume de água deslocado. Esse efeito é utilizado como resistência ao movimento dentro da água, fortalecendo a musculatura sem aumentar o impacto articular..
  • Pressão hidrostática – É a pressão exercida pelo líquido no objeto nela imerso. Quanto mais profunda a imersão, maior é a pressão hidrostática, ou seja, quando um paciente está de pé em uma piscina, seus pés receberão uma maior pressão do que a região do tórax, por exemplo. O princípio físico da pressão hidrostática favorece a circulação periférica, reduzindo o edema e pode também ajudar no fortalecimento da musculatura respiratória.
  • Viscosidade – é a força de atrito entre as moléculas da água, causando resistência ao fluxo. Movimentos rápidos dentro da água aumentam esse atrito gerando o que conhecemos como turbulência, que pode interferir no deslocamento do corpo do paciente na água. A turbulência pode ser utilizada tanto como resistência para treinos de fortalecimento como auxílio para a realização de algum movimento.

Além desses princípios físicos, a temperatura da água também desempenha um papel crucial na fisioterapia aquática. A água aquecida pode ajudar a relaxar os músculos, melhorar a circulação e aliviar a dor, enquanto a água fria pode ser utilizada para reduzir inflamações e melhorar a recuperação.

Indicações da Fisioterapia Aquática

A fisioterapia aquática é indicada para uma variedade de condições e populações. Entre as principais indicações, destacam-se:

  • Reabilitação de lesões ortopédicas: O tratamento de fisioterapia realizado com o paciente parcialmente submerso oferece uma série de benefícios particularmente interessantes para a reabilitação de pacientes que sofreram fraturas, entorses ou cirurgias ortopédicas. A água permite movimentos controlados, favorecendo a recuperação dos movimentos e reduzindo o risco de novas lesões.
  • Condições neurológicas: Pacientes com AVC, esclerose múltipla ou Parkinson encontram na fisioterapia aquática uma forma de melhorar a coordenação motora, equilíbrio e força muscular.
  • Problemas respiratórios: A imersão em água ajuda a melhorar a capacidade pulmonar e a função respiratória, sendo benéfica para pessoas com doenças respiratórias crônicas, como asma.

Contraindicações

Embora a fisioterapia aquática tenha muitos benefícios, existem algumas contraindicações que devem ser consideradas. Pacientes com certas condições médicas, como:

  • Infecções de pele ou micoses
  • Doenças contagiosas
  • Insuficiência cardíaca não controlada
  • Incontinência urinária ou fecal

Devem ser avaliados cuidadosamente por um fisioterapeuta antes de iniciar o tratamento aquático. A avaliação prévia é crucial para garantir a segurança e a eficácia do tratamento.

Técnicas e Métodos Utilizados

Existem métodos e técnicas específicas para o tratamento de pacientes em ambiente aquático. as principais são: o Método dos anéis de Bad Ragaz, o Método Halliwick e Watsu. A seguir um breve resumos de cada método:

Método Halliwick

O método Halliwick é uma abordagem de fisioterapia aquática desenvolvida para promover a reabilitação e a independência em pacientes com diversas condições, especialmente aqueles com deficiência física e neurológica. Criado na década de 1940 por James McMillan, o método se baseia em princípios de movimento e adaptação à água, visando não apenas a reabilitação física, mas também a independência e o desenvolvimento de habilidades motoras e a promoção do bem-estar emocional. Algumas características desse método são: 

  1. Flutuabilidade e Controle: O método enfatiza a flutuabilidade e o controle corporal na água. Os pacientes aprendem a se mover e a se equilibrar, utilizando a água para facilitar os movimentos e reduzir o impacto sobre as articulações.
  2. Educação e Autonomia: A filosofia Halliwick busca promover a autonomia dos pacientes, ensinando-os a entender seu corpo e como interagir com a água. Isso inclui aprender a controlar a respiração, a posição do corpo e os movimentos.
  3. Movimento em 10 Princípios: O método é estruturado em 10 princípios que abordam a movimentação na água. Esses princípios incluem, por exemplo, a importância do controle do corpo, a transferência de peso e a rotação, visando desenvolver habilidades motoras e melhorar a coordenação.
  4. Atividades Personalizadas: As atividades são adaptadas às necessidades individuais de cada paciente. O terapeuta pode escolher exercícios que ajudem a melhorar a força, a flexibilidade, o equilíbrio e a coordenação, levando em consideração as limitações e capacidades do paciente.
  5. Integração Sensorial: O ambiente aquático proporciona estímulos sensoriais que podem ser benéficos para pacientes com dificuldades neurológicas. O método Halliwick utiliza esses estímulos para promover a consciência corporal e a propriocepção.

Método Bad Ragaz

O método dos anéis de Bad Ragaz é uma abordagem de fisioterapia aquática desenvolvida na década de 1960 em Bad Ragaz, Suíça. Este método utiliza anéis flutuantes para facilitar exercícios e promover a reabilitação de pacientes com diversas condições musculoesqueléticas e neurológicas. Posteriormente à sua criação, o método incorporou alguns dos princípios do PNF (Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva), Neste método, utilizam-se anéis de flutuação de diferentes tamanhos e densidades, que são posicionados de acordo com as necessidades do paciente. Isso permite que o terapeuta ajuste a intensidade e a dificuldade dos exercícios. Além disso, o método inclui uma variedade de exercícios que podem envolver alongamentos, fortalecimento, mobilidade articular e atividades de equilíbrio.

Relação entre os Anéis de Bad Ragaz e o conceito PNF

  1. Facilitação do Movimento: Assim como o PNF, que utiliza padrões de movimento específicos para facilitar a ativação muscular, os anéis de Bad Ragaz permitem que os terapeutas conduzam os pacientes em movimentos controlados, promovendo a ativação neuromuscular. A diferença é que ao invés de usar uma maca, os pacientes encontram-se flutuando em supino com auxílio de flutuadores.
  2. Integração Sensorial: No método dos anéis, o ambiente aquático, a temperatura, a turbulência e a própria flutuabilidade ajudam a proporcionar essa estimulação, permitindo que os pacientes desenvolvam a consciência corporal e a propriocepção.
  3. Padrões de Movimento: Ambos os métodos focam em padrões de movimento que replicam atividades funcionais. No caso dos anéis de Bad Ragaz, os terapeutas podem adaptar os exercícios para simular movimentos do dia a dia, como levantar, girar e se equilibrar, seguindo os princípios do PNF.
  4. Feedback e Correção: Assim como no PNF, onde o feedback é essencial para o aprendizado motor, os anéis de Bad Ragaz permitem que os terapeutas proporcionem feedback em tempo real, ajudando os pacientes a corrigir posturas e movimentos.

Método Watsu

O método Watsu é uma terapia aquática que combina massagem, alongamento e movimentos suaves dentro da água, promovendo relaxamento e bem-estar. O nome “Watsu” é uma combinação de “water” (água) e “shiatsu” (uma forma de massagem japonesa). Desenvolvido na década de 1980 por Harold Dull, o Watsu foi projetado inicialmente para fins de terapia, mas também é amplamente utilizado para relaxamento e redução do estresse. Ao promover o relaxamento físico e emocional, essa terapia aquática oferece uma maneira eficaz de tratar quadros de dor, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. 

Aplicações Clínicas

O Watsu é utilizado para uma variedade de condições, incluindo:

  • Estresse e Ansiedade: É frequentemente recomendado para pessoas que buscam reduzir níveis de estresse e melhorar a saúde mental.
  • Condições Musculoesqueléticas: Pacientes com dor crônica, artrite, fibromialgia e outras condições musculoesqueléticas podem se beneficiar do relaxamento e do alívio da dor proporcionados pela terapia.
  • Reabilitação: O método também é usado na reabilitação de lesões, ajudando a restaurar a função e a mobilidade.

O Papel do Fisioterapeuta Aquático

O fisioterapeuta aquático desempenha um papel crucial no processo de reabilitação. Para atuar nessa área, é fundamental que o profissional tenha uma formação específica, incluindo conhecimentos sobre as propriedades da água, técnicas de exercício e avaliação de condições médicas.

O fisioterapeuta é responsável por realizar uma avaliação inicial detalhada, identificar as necessidades do paciente e elaborar um plano de tratamento individualizado. Durante as sessões, o fisioterapeuta supervisiona os exercícios, garante a segurança do paciente e faz os ajustes necessários no tratamento conforme a evolução.

Conclusão

A fisioterapia aquática é uma especialidade eficaz para a reabilitação, com benefícios que vão muito além do simples tratamento físico. Ao utilizar as propriedades da água, os fisioterapeutas podem oferecer um ambiente seguro e adaptável para uma variedade de pacientes, ajudando-os a alcançar seus objetivos de recuperação de maneira eficaz e agradável.

Ter uma especialização em fisioterapia aquática oferece algumas vantagens profissionais que podem enriquecer a sua carreira como fisioterapeuta, sendo que a mais óbvia é a diferenciação no mercado de trabalho.