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Bandagem para escápula alada em crianças com PBO

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Essa postagem é a tradução livre do artigo Efficacy of 3 therapeutic taping configurations for children with brachial plexus birth palsy – S.A. Russo et al. Journal of Hand Therapy Volume 31, Issue 3, July–September 2018, Pages 357-370. e conta com algumas observações e comentários.

A escápula alada é uma alteração comum em crianças com Paralisia Braquial Obstétrica (PBO). A protrusão da escápula para longe da parede torácica, característica da escápula alada afeta a estética corporal da criança, sendo particularmente inconveniente para as meninas mais velhas, pois o contorno proeminente da escápula muitas vezes fica visível, mesmo sob as vestes, inibindo o uso de certas peças de roupas, como um top ou mesmo uma blusa.

A etiologia da escápula alada na população com PBO não é clara, já que se espera que os nervos escapular torácico e dorsal longo estejam intactos na maioria das crianças com lesões do plexo superior do tipo Erb-Duchenne (C5-C6 ou C5-C7). Isso porque lesões pós-ganglionares do tronco superior normalmente ocorrem distalmente aos ramos dos nervos escapular torácico e dorsal longo. Acredita-se que nessas crianças, a escápula alada seja um mecanismo compensatório para a falta de movimento da articulação glenoumeral.

Entre as alternativas existentes para o tratamento cirúrgico para a escápula alada, destacam-se os exercícios passivos e ativos, as atividades recreativas que envolvem o uso das extremidades superiores, estimulação elétrica e bandagem terapêutica. Os objetivos dessas intervenções são basicamente fortalecer os músculos, aliviar a tensão muscular e prevenir a contratura articular. Embora essas intervenções sejam usadas com frequência, faltam evidências objetivas que demonstrem sua eficácia. De fato, os resultados de estudos anteriores que investigaram os efeitos da bandagem terapêutica da escápula são inconsistentes. Além disso, eles abrangem diferentes tipos de bandagem e diferentes metodologias de aplicação das bandagens.

Esta postagem aborda o trabalho de Russo et al, que conduziram um estudo transversal com o objetivo de comparar 3 modalidades de bandagens terapêuticas para a estabilização da escápula em crianças com PBO. Os pacientes foram avaliados em um único momento, servindo como seus próprios controles.

A pesquisa avaliou 28 crianças com PBO. Foram aplicados marcadores anatômicos sobre os processos espinhosos de T2 e T8, fúrcula esternal, processo do acrômio, trigonum spinae (intersecção da espinha escapular e borda medial da escápula), ângulo inferior da escápula e epicôndilos medial e lateral do úmero. As coordenadas tridimensionais desses marcadores foram registradas com um sistema de captura de movimento de 10 câmeras (Vicon, Centennial, CO; Motion Analysis Corporation, Santa Rosa, CA).

As capturas de movimento foram realizadas com os participantes sentados, com os braços ao lado do corpo em uma posição de repouso neutra com as mãos livres. Os participantes foram então solicitados a manter os braços em 4 posições diferentes:
(1) neutro com os braços ao lado do corpo,
(2) mão na boca,
(3) mão na barriga, e
(4) adução cruzada máxima.

paciente mantendo a posição de levar a mão à boca com 3 bandagens diferentes: A= Sem bandagem, B= bandagem facilitadora de rombóides maior e menor, C= bandagem facilitadora de trapézio médio e inferior, e D= bandagem facilitadora combinada de trapézio e rombóides

A avaliação de captura de movimento considerou 4 condições:  
(1) sem bandagem,
(2) bandagem para  facilitação do romboide maior e romboide menor,
(3) bandagem para facilitação do trapézio médio e inferior e
(4) bandagem para facilitação do romboide maior, rombóide menor e trapézio médio e inferior (combinação de 2 e 3, referida como bandagem combinada).

Os pesquisadores avaliaram o grau de afastamento da escápula e também a amplitude de movimento ativa, para investigar se a estabilização da escápula permitia um maior arco de movimento no membro afetado.

Resultados:
Os pesquisadores identificaram que com exceção da bandagem para Rombóide (a qual não teve efeito) todas as outras técnicas de bandagem foram capazes de manter a estabilidade escapular, reduzindo seu afastamento do tórax de forma estatisticamente significativa, porém clinicamente pouco expressiva. No entanto não houve melhora significativa na amplitude de movimento ativo nas articulações glenoumeral e nem na escapulotorácica.

Conclusões:
 A bandagem romboide não pode ser recomendada para o tratamento de crianças com PBO, pois nenhum benefício foi encontrado isoladamente ou em combinação com a bandagem de trapézio. A bandagem terapêutica do trapézio médio e inferior foi a configuração mais eficaz para a estabilização escapular em crianças com PBO. A postura de repouso melhorou, mas o desempenho das posições não melhorou significativamente.

Comentários:
Essa postagem é a versão ultra resumida do trabalho de Russo et al. No entanto, recomendo a leitura do artigo na íntegra, principalmente para quem quiser maiores detalhes sobre a metodologia da pesquisa e os resultados. A bandagem terapêutica utilizada com o objetivo de facilitar o trapézio médio e inferior diminui consistentemente a escápula alada em crianças com PBO. Embora a estabilização da escápula não tenha se traduzido em mudanças significativas na amplitude de movimento do braço afetado, vale a pena ressaltar que esse estudo foi transversal. Talvez os resultados de um estudo longitudinal de bandagem + fisioterapia demonstrem uma melhoria na amplitude de movimento ativo do braço em médio/longo prazo. De qualquer maneira, acho que vale a pena trabalhar essas crianças sempre com uma bandagem estabilizadora de escápula, nem que seja somente para tentar minimizar o impacto estético da escápula alada.

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