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Bandagem para o tratamento da bursite anserina

Uma bursa é uma pequena estrutura anatômica semelhante a um saco que contém fluido sinovial em seu interior. Localiza-se entre o osso e um tendão ou músculo. Sua função é permitir que o tendão deslize suavemente sobre o osso, diminuindo assim a fricção entre estas estruturas. A inflamação da bursa anserina, ou bursite anserina, é um distúrbio comum, podendo ser causada por sobrecarga mecânica ou movimentos repetitivos, especialmente em atletas com os músculos isquitibiais encurtados. Pode ser causada também por trauma direto.

Bursite da pata de ganso (pes anserie), ou bursite anserina, é o nome que se dá à inflamação da bursa localizada na inserção comum dos tendões dos músculos grácil, semitendíneio e sartório na face medial do joelho. Os anatomistas são famosos pela sua criatividade para nomear as partes do corpo. Neste caso, eles julgaram que a inserção destes tendões se assemelham à uma “pata de ganso”, daí seu nome.

SINTOMAS

O paciente queixa-se de dor na parte medial do joelho (ele geralmente é capaz de apontar com o dedo, indicando ser uma dor bem localizada), mais exatamente 2-3 dedos abaixo da linha articular, aproximadamente na altura da tuberosidade anterior da tíbia. A palpação da inserção da pata de ganso é dolorosa e a dor piora com atividade física como correr ou subir/descer escadas. A região ao redor da bursa pode ficar edemaciada.
Fatores agravantes incluem atividades que requerem movimentos como flexão, rotação externa e adução. Girar, chutar, agachar ou movimentos rápidos de um lado para o outro, como nos esportes também podem causar mais irritação.

ETIOLOGIA

A essa patologia ocorre quando os músculos relacionados da chamada pata de ganso são usados ​​repetidamenteem movimentos envolvendo flexão e adução. Isso causa atrito e também aumenta a pressão sobre a bursa. A bursite também pode ser decorrente de um trauma, como um impacto direto na região da inserção dos músculos. Um trauma nessa região resulta em uma liberação aumentada de líquido sinovial. A bursa então se torna inflamada e sensível ou dolorida.

algumas evidências sugerem que a bursite anserina é mais comum em mulheres de meia-idade com excesso de peso. Podemos explicar isso pelo fato de as mulheres apresentarem pelve mais larga, resultando em angulação do joelho no plano frontal, o que leva a maior pressão na área de inserção da pata de ganso pelo genu valgo.

Outros fatores etiológicos relacionados são: encurtamento dos músculos isquiotiiais, irritação da plica suprapatelar, menisco medial lesionado, pé plano, genu valgo, infecção e reação de corpo estranho.
De modo geral, podemos assumir que a bursa inflamada não é uma patologia primária, mas sim uma consequência de uma complicação anterior.

TRATAMENTO

A bursite anserina geralmente é uma condição auto-limitada, ou seja: o paciente acaba melhorando com ou sem tratamento. Entretanto, ele melhora mais rápido em com menos recidivas se tiver acompanhamento fisioterapêutico, principalmente porque os fisioterapeutas que leram esta postagem estão cientes que a bursite anserina é secundária a uma disfunção, e já sabem que se não tratarem o fator causal, a bursite retornará (pelo amor de Deus, nada de 10 sessões somente fazendo gelo e TENS. Você pode fazer melhor do que isso!!!). O objetivo final do tratamento de condições que envolvem stress mecânico de alguma estrutura é reduzir a sobrecarga sobre ela. Em um primeiro momento, deve-se solicitar repouso ao paciente. Entenda-se por repouso redução ao máximo de sobrecarga mecânica, tais como prática de esportes, longas caminhadas, subir e descer escadas. Gelo 2-3 vezes por dia durante 20 minutos e inti-inflamatórios também têm importância na fase aguda. Melhorar a flexibilidade por meio de alongamento dos isquitibiais. Avaliar a condição do glúteo médio também é uma boa pedida, visto que a fraqueza desse músculo está relacionada ao valgo dinâmico.

Bandagem
Existe uma técnica de bandagem extremamente simples porém bastante útil nestes casos. Esta técnica eu aprendi quando fiz o curso do conceito Mulligan, não sei se é uma bandagem própria do método, pois não encontrei a descrição dela em nenhum livro, site e nem em nenhum artigo de fisioterapia. Mas o importante é que funciona e esta bandagem, se bem aplicada, gera redução importante da dor e faz seu paciente sair do consultório bastante satisfeito (bem mais do que com o TENS, eu te garanto) Vou ensinar o passo a passo a seguir:

Primeiro passo: Identificar anatomicamente a região a receber a bandagem

Desenhei os tendões só pra ajudar na visualização. Não precisa fazer isso no paciente, OK?

Em seguida aplique uma faixa de esparadrapo anti-alérgico. Na verdade, dependendo do esparadrapo antialérgicoa aderência à pele pode ser muito ruim. Eu costumo usar uma faixa de bandagem elástica (Kinesiotape) só para diminuir as chances de causar irritação na pele, como demonstrado abaixo.

Primeira camada de bandagem = antialérgica. Nesse exemplo eu usei esparadrapo antialérgico

A idéia da próxima sequência de imagens é ilustrar que a tração deve ser feita no sentido anterior para que os tendões da pata de ganso sejam ligeiramente afastados da bursa e diminuindo um pouco o stress mecânico sobre a bursa. Aplique uma segunda bandagem, desta vez de esparadrapo rígido, aplique de posterior para anterior, tracionando e “aproximando” a pele com os dedos conforme a figura acima. Ao final, a pele sob a bandagem deve ficar com um aspecto enrugado como “casca de laranja”. A seta indica a direção da tração aplicada. Ao final da bandagem peça ao seu paciente para caminhar e repetir os movimentos que causam dor. Se você tiver tido êxito, então seu paciente sentirá uma redução importante da dor e irá pra cas asatisfeito com seu atendimento.


IMPORTANTE:

As informações desta postagem são direcionadas a estudantes e profissionais de fisioterapia.

  1. O esparadrapo não deve permanecer por mais de 48 hs em contato com a pele para evitar lesões cutâneas
  2. A bandagem garante apenas um repouso às estruturas e redução da dor. E deve ser usada em conjunto com outras técnicas de fisioterapia e não como tratamento isolado
  3. Se não houver melhora imediata da dor, retire e refaça a bandagem. Os efeitos devem ser imediatos. Se a dor não diminuir, então não tem porque o paciente ir para casa com ela.

Espero que esta postagem tenha lhe acrescentado algum conhecimento útil e que você possa ajudar pacientes a terem um tratamento fisioterapêutico mais eficaz

REFERÊNCIAS

Anserine syndrome – Bras J Rheumatol 2010;50(3):313-27

Pes Anserinus Bursitis. (2020, June 7). Physiopedia, . Retrieved 15:39, December 21, 2020 from https://www.physio-pedia.com/index.php?title=Pes_Anserinus_Bursitis&oldid=240481.

2 comentários em “Bandagem para o tratamento da bursite anserina”

  1. Olá, gostei muito do seu conteúdo! Parabéns!
    Sou fisioterapeuta e estou com uma dor no joelho na parte lateral, irradiando p panturrilha…mas fiz a ressonância e o diagnóstico foi peritendinite da pata anserina, comecei a pesquisar pq não sinto a dor na pata de ganso e sim já região que falei acima….nesse caso, a dor pode irradiar p região lateral e posterior do joelho? E minha dor é mais na hora de dormir ….. diferente do que eu li.. obrigada!

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