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Cadeira de rodas, ajustes básicos e adaptações.

Uma cadeira de rodas adaptada é um item essencial no processo de reabilitação, sendo essencial não somente para o conforto mas também para a independência funcional do paciente.

Infelizmente, ainda existe uma brutal falta de informação sobre a importância da cadeira e rodas estar bem ajustada, e não estou me referindo só aos profissionais de saúde, me refiro a pessoas de bom coração que por desconhecimento acabam doando cadeiras de rodas totalmente inadequadas. Me refiro também a alguns políticos (estes, lamentavelmente, nem sempre com um coração tão bom assim) que possuem obras sociais e ONGS elitoreiras, que doam cadeiras de rodas a torto e a direito sem a preocupação de adaptá-las aos usuários.

É importante deixar claro logo de início que uma cadeira de rodas mal adaptada pode ser um agravante à saúde dos cadeirantes, podendo levar a tendinites do manguito rotador e até mesmo escoliose e deformidades no quadril. Obviamente nem todo fisioterapeuta precisa ser um expert em prescrição e adaptação de cadeiras de rodas, mas considero essencial que tenhamos alguns conhecimentos básicos a respeito dos componentes e ajustes para que possamos orientar melhor os nossos pacientes.

Como saber se uma cadeira está bem adaptada?

Essa pergunta não tem uma resposta fácil. Na verdade, talvez a melhor forma de respondê-la seja com outra pergunta: Você sabe me dizer quando uma calça jeans está bem ajustada?

Sei que essa pergunta pode soar estranha, mas pense bem: tem gente que gosta de usar calças jeans bem justas ao corpo, tem gente que gosta delas mais largas, algumas pessoas gostam de fazer a bainha da calça enquanto outras não. Em cada caso, a calça estará ajustada às preferências estéticas e conforto do cliente. Com a cadeira de rodas é mais ou menos assim também. Obviamente que as preocupações com o conforto e a funcionalidade são muito mais relevantes do que a estética.

Uma cadeira de rodas devidamente ajustada proporciona um assento confortável e um bom apoio para as costas, melhorando a postura e otimizando a função. Uma cadeira de rodas mal adaptada pode levar a úlceras de pressão, má postura, dificuldades com a locomoção e com as transferências.

Uma dica rápida é a de que a posição sentada ideal para a maioria das pessoas em cadeira de rodas segue a regra 90-90-90.

90° de flexão de quadris
90° flexão de joelhos
90° de flexão tornozelo

Essa é uma regra geral, mas evidentemente que existem usuários de cadeira de rodas que precisam de suporte postural adicional. Nesses casos, o ajuste leva mais tempo e precisa ser mais minucioso. Por causa disso é importante conhecer os principais componentes e ajustes que podem ser feitos em cadeiras de rodas.

Principais componentes de uma cadeira de rodas:

Rodas – O ideal é que sejam feitas de materiais mais leves para reduzir o peso da estrutura, aumentar a mobilidade e diminuir o esforço para tocar a cadeira (tocar a cadeira significa usar os braços para mover as rodas da cadeira e se locomover sem precisar da ajuda de outra pessoa).

Sistema Quick-Release – Esta é aquela travinha que permite retirar as rodas para colocar a cadeira no carro. Geralmente as cadeiras tem este sistema nas rodas traseiras, mas também é possível colocá-lo nas rodas dianteiras. Muito útil para transportar no porta malas do carro.

Pneus – Basicamente existem 2 tipos:
[1] Pneus maciços – Indicados para uso de instituições como hospitais e clínicas, pois tem baixa manutenção e o piso liso não vai gerar trepidação na cadeira.
[2] Infláveis- Indicados para uso nas ruas do Brasil, onde temos mais buracos e desníveis do que asfalto. Este tipo de pneu amortece a trepidação mas tem a desvantagem de furar. A grande maioria dos cadeirantes opta por utilizar pneus maciços nas rodas dianteiras e infláveis nas traseiras.

Assento – O ideal é que seja um assento rígido, moldado ao usuário. Assentos de cadeiras que dobram em “X” podem se deformar, afundando e ficando parecidos com um “U” e isso acaba gerando uma rotação interna do quadril e favorecendo postura viciosa. Nestes casos, um assento rígido e removível é bem vindo.

Assento flexível demais causando um desnível da pelve .

Encosto – Qual a altura ideal? É primordial para o usuário capaz de tocar a cadeira (encosto alto = toque curto). Para cadeirantes com bom controle de tronco e membros superiores, o encosto deve ficar mais ou menos 2 dedos abaixo do bordo inferior da escápula, esta medida é importante para liberar os ombros e permitir o posicionamento correto dos braços ao impulsionar as rodas traseiras. [altura correta = toque simétrico = menor gasto energético = menos lesões por esforço repetitivo].

ombros livres permitem melhor desempenho ao tocar a cadeira de rodas

Apoio para os pés – São bonitinhos, mas não são enfeite. Experimenta terminar de ler esta postagem sem apoiar os pés no chão pra você ver como é importante ter um apoio para os pés. Além disso, a altura do pedal estabelece um posicionamento correto da perna em relação à superfície de contato do assento, o que permite uma distribuição de peso mais adequada evitando pressões exageradas e prevenindo úlceras de pressão. Devemos observar também a inclinação da plataforma do pedal, cujo ângulo deve estar adequado para que ocorra uma boa circulação sanguínea.

importância de ajustar corretamente a altura do apoio para os pés

O comprimento do apoio para os pés também afetará o posicionamento das extremidades inferiores na cadeira de rodas. Se o apoio para os pés for muito alto, os usuários de cadeira de rodas experimentarão um aumento da pressão sobre as tuberosidades isquiáticas. Isso também pode aumentar a rotação externa dos quadris ou fazer com que as pernas sejam varridas pelo vento para um lado devido ao mau contato da coxa com a almofada ou o sistema de assento. Se o apoio para os pés for muito baixo, os usuários de cadeira de rodas podem experimentar diminuição da circulação nas extremidades inferiores e dificuldade em manter os pés nas placas de pé

Principais ajustes da cadeira de rodas

Largura do assento;
Ao medir a largura do assento, considere a região mais larga dos quadris e com uma fita métrica, meça o comprimento de uma borda a outra.
Para um ajuste correto a largura não pode ser nem folgada demais e nem apertada. Uma sugestão é a de que a largura deve ser tal que permita ao fisioterapeuta passar os dedos entre a parte externa das coxas do usuário e as laterais da cadeira de rodas (eu, pessoalmente, somo 2cm à distância medida). Seus dedos devem caber confortavelmente sem serem espremidos. Se os quadris do paciente estiverem abduzidos, seus joelhos provavelmente estarão na maior distância. Nesse caso, você precisa medir a partir da borda externa de cada joelho. Certifique-se de que as laterais da cadeira de rodas não pressionem as pernas do usuário. Isso é particularmente importante para cadeirantes com alteração da sensibilidade nos membros inferiores. A pressão excessiva por longos períodos pode causar uma úlcera de pressão.

Profundidade do assento;
Um bom ajuste deve permitir um espaço de uns dois dedos entre a parte de trás do joelho e a almofada. Para testar, verifique se o usuário da cadeira de rodas está sentado ereto e, em seguida, deslize a mão entre a almofada e a parte de trás do joelho, deve haver um espaço grande o suficiente para permitir a passagem dos dedos. Deslize também a mão pela parte de trás da panturrilha e certifique-se de que ela não esteja tocando o assento ou a almofada. Verifique sempre os dois lados

Altura do encosto;
Verifique se o tronco do paciente está alinhado sobre os quadris e pergunte se o encosto é confortável. Verifique também se o cadeirante consegue tocar a cadeira de rodas sem que o encosto atrapalhe na movimentação do ombros.
A altura do encosto depende das necessidades do usuário, ou seja: cadeirantes que tocam a própria cadeira precisam de um encosto mais baixo para que seus ombros se movam livremente. Os usuários de cadeira de rodas que têm dificuldade em sentar-se eretos podem precisar de um encosto mais alto que dê mais apoio à coluna.

Posição da roda traseira para propulsão manual;
Está corretamente ajustado se os cotovelos do usuário estiverem em um ângulo reto quando as mãos forem colocadas nos aros de impulsão. Peça ao usuário da cadeira de rodas para segurar os aros de impulsão na parte superior das rodas. O cotovelo deve ser dobrado a 90 graus.

Apoio de braço – A altura ideal é medida com o usuário sentado com o cotovelo fletido a 90 graus. a altura entre o assento e o cotovelo do usuário.

Cambagem das rodas traseiras – É a inclinação das rodas traseiras em relação a estrutura. Com a cambagem a cadeira fica mais estável aproxima a roda do corpo, diminuindo o esforço.

Inclinar no espaço (tilt)
Fornecer inclinação no espaço em uma cadeira de rodas aumenta o equilíbrio para usuários de cadeira de rodas com controle deficiente do tronco. Os efeitos da gravidade empurram o tronco do usuário contra o estofamento traseiro para aumentar a estabilidade vertical na cadeira de rodas. A adição de inclinação no espaço pode ser realizada alterando diferentes componentes de uma cadeira de rodas. É importante lembrar que criar inclinação no espaço em uma cadeira de rodas pode afetar o desempenho, posicionamento e mobilidade: 1) afeta positiva ou negativamente o alinhamento cervical; 2) as transferências para fora da cadeira de rodas serão mais árduas; 3) aumenta a tendência da cadeira de rodas a tombar para trás.

(1) Ser Confortável. – Já parou pra pensar em quantas horas por dia um usuário fica sentado em uma cadeira de rodas? Imagine se você tivesse que permanecer calçando um sapato bico fino, 2 números menores que o seu durante um dia inteiro de trabalho, ou então caminhar com uma mochila de 20Kg. Pois é, uma cadeira pesada demais deixa de ser uma ajuda e torna-se um empecilho, da mesma forma, se estiver apertada demais ou larga demais acaba sendo desconfortavel. Sendo assim, obrigatoriamente a cadeira deve seguir o biotipo de seu usuário.

(2) Segurança.– Este item relaciona-se não só aos dispositivos de segurança como cintos e travas, mas também, e principalmente, a segurança que o usuário tem em utilizar o equipamento (resistência do material, estabilidade, facilidade em se manobrar, etc.)
(3) Ser ajustável – Assim como as cadeiras de escritório, o ideal é que o equipamento tenha o máximo de possibilidades de ajustes possível (modificar a distância entre a roda dianteira e trazeira, altura dos braços e pedais, inclinação do assento, etc.)
(4) Postura Correta – respeitando o quesito conforto, o equipamento deve ser capaz de garantir inicialmente o máximo de simetria, além de alinhamento de tronco e cabeça (lembrando que nem sempre a postura sentada “ideal” pode ser alcançada devido a encurtamentos e compensações).
(5) Permitir alterações. – Estas alterações referem-se a encostos para cabeça, apoio para braços, além de adaptações para se alimentar, escrever, pintar, utilizar o computador, etc.
(6) Estética – Se estamos falando de um cadeirante, estamos nos referindo a uma pessoa que vai se locomover por meio de cadeira de rodas tanto no trabalho quanto nas atividades sociais. Cadeira de rodas também tem cor. Você não iria gostar de andar por aí com uma camisa quadriculada cor de rosa e uma calça jeans com uma perna azul e outra amarela. Assim, é importante que a cadeira seja também esteticamente agradável.

Espero que tenha achado as informações desta postagem úteis
Em breve vou publicar mais coisas sobre cadeiras de rodas

1 comentário em “Cadeira de rodas, ajustes básicos e adaptações.”

  1. Minha mãe já usa cadeira de rodas compramos outra ela está com dificuldade para virar=eu andei para ela ver mas está=com dificuldade

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