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Circuito de atividades físicas para pacientes com Parkinson

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A doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum após a doença de Alzheimer. Pacientes diagnosticados com Parkinson tendem a se queixar de dificuldade para caminhar, levantar de cadeiras e falta de disposição para realizar as tarefas diárias. Diversos estudos sugerem que um programa de condicionamento físico com atividades físicas regulares é capaz de minimizar alguns desses sintomas e, até mesmo, aumentar a expectativa de vida. Um grande estudo que acompanhou 438 pacientes com doença de Parkinson descobriu que após quatro anos, a mortalidade era menor nos pacientes que se exercitavam regularmente, o interessante desse estudo é que os benefícios da atividade física regular se estendeu até mesmo aos pacientes que dependiam de dispositivos auxiliares da marcha [1]. Esta postagem foi baseada no artigo An Evidence-Based Exercise Regimen for Patients with Mild to Moderate Parkinson’s Disease

Reconhecendo que não existe uma prescrição de exercícios “padrão” para uma doença tão variável e progressiva, as orientações dessa postagem não devem ser entendidas como um plano de exercícios universalmente aplicável, mas sim como um modelo a ser modificado por fisioterapeutas e educadores físicos para melhor atender às necessidades de pacientes. Se você deseja se aprofundar no tema, recomendo o livro abaixo

Treinamento cardiovascular para pacientes com Parkinson

O treinamento cardiovascular, pode ser definido como uma rotina que aumenta a frequência cardíaca e a demanda de oxigênio. Curiosamente, uma única sessão de exercícios cardiovasculares de alta intensidade, na forma de ciclismo assistido, mostrou redução do tremor e da bradicinesia sem fadiga excessiva [2]. Um estudo de caso relatou que um programa de oito semanas de exercícios aeróbicos melhoraram a linguagem e a cognição em um pacientes com Parkinson [3]. Em um ensaio clínico randomizado, 121 pacientes com doença de Parkinson se participaram de um programa de 16 semanas de exercícios aeróbicos (utilizando esteira, bicicleta ou aparelho elíptico) melhoraram a função geral, o equilíbrio e a eficiência do movimento [4].

Embora haja uma quantidade limitada de estudos controlados randomizados que confirmam os benefícios de longo prazo do treinamento cardiovascular em pacientes com doença de Parkinson, há um número crescente de dados sugerindo que esse é o caso. Pacientes com progressão de doença de Parkinson leve a moderada que realizaram treinamento em esteira de alta intensidade mostraram mudanças na plasticidade cerebral. Pacientes que realizam exercícios cardiovasculares também apresentam maior longevidade em estudos de mortalidade [5], implicando ainda mais na existência de benefícios em longo prazo.

Treinamento de equilíbrio para pacientes com Parkinson

A instabilidade postural é um sintoma comum na doença de Parkinson, resultando em um aumento da frequência de quedas e lesões, o que, por sua vez, aumenta a morbidade e mortalidade [6]. Pacientes que participam de treinamento de equilíbrio mostraram melhorias na marcha e deambulação. Uma metanálise encontrou evidências de que a atividade física é capaz de melhorar a instabilidade postural.

Um pequeno estudo sugeriu que a combinação de treino de equilíbrio e de resistência foi capaz de melhorar os escores de equilíbrio de pacientes com doença de Parkinson mais do que o treinamento de equilíbrio sozinho [7]. Semelhante às limitações dos estudos que examinam os benefícios do exercício cardiovascular, os efeitos a longo prazo do treinamento de equilíbrio não são claros. No entanto, dada a natureza progressiva da doença de Parkinson, é provável que, para manter a eficácia, o treinamento de equilíbrio precise ser contínuo. Outra opção sugerida é o Tai Chi [8]. Em pacientes saudáveis, o tai chi demonstrou ser mais eficaz na prevenção de quedas em pacientes idosos em comparação com a fisioterapia convencional [9]. Em pacientes com doença de Parkinson leve a moderada, o treinamento de Tai Chi parece melhorar a função física [10] e o equilíbrio [11].

Um grande ensaio clínico randomizado que investigou o impacto de 24 semanas de prática de Tai Chi em comparação com o treinamento de resistência ou alongamento de baixa intensidade, descobriu que o Tai Chi melhorou significativamente a excursão máxima, o controle direcional, a marcha e as medidas de força [12]. No geral, isso sugere que o tai chi é mais eficaz do que o alongamento ou o treinamento de resistência para melhorar a estabilidade postural.

Conclusão

A realização de exercícios terapêuticos regulares é um aspecto importante do tratamento destes pacientes. Naturalmente a atividade física regular não irá interromper a progressão da doença, no entanto, de acordo com os estudos apresentados, pode amenizar diversos sintomas secundários como depressão, constipação, melhorar o equilíbrio, prevenir encurtamentos musculares e manter ao máximo a capacidade funcional. Os exercícios tem importância não só para os aspectos motores do paciente com Parkinson, mas também para os aspectos psicológicos e neurocognitivos.

Uma sugestão de tratamento que eu particularmente gosto muito é a realização de sessões de cinesioterapia em grupo por meio de um circuito de exercícios. Como se trata de um programa de condicionamento físico, algumas medidas importantes devem ser observadas:
#1- Solicitar atestado médico liberando o paciente para a prática de exercícios físicos.
#2- Conferir o horário da medicação para que os exercícios sejam realizados preferencialmente no “período on” para que o desempenho nos exercícios seja otimizado.#3- Monitorização da FC e PA antes, durante e ao término do circuito.

Exemplos de exercícios que podem ser realizados com um grupo de pacientes com Parkinson:

*Caminhadas para frente, costas e lateral, podendo solicitar que os pacientes acelerem e desacelerem o passo.

*Marcha por um circuito de obstáculos (geralmente usa-se therabands no solo ou pequenas caixas. O objetivo é fazer o paciente dar passos “mais compridos” e passos “mais altos” alternadamente)

*Ainda treinando marcha, pode-se usar a imaginação e desenvolver atividades em que o paciente precise mudar rapidamente de direção enquanto anda (exemplo: gritando direita volver!)

*Andar sem sair do lugar, levantando os joelhos bem alto

*Pernas afastadas, mãos na cintura e rodando um bambolê imaginário.

*Arremesso de bola de vôley de um paciente para o outro ou entre o paciente e o terapeuta.

*Ainda com bola, pode-se organizar jogo de basquete (mulheres geralmente não gostam de jogar basquete)

*Exercícios resistidos com caneleiras, medicine ball ou resistências elásticas (theraband).

*Se o seu ginásio possuir, pode-se também realizar atividades com esteira ou bicicleta ergométrica.

*Podem ser feitas também atividades de sentar e levantar

*Não esqueça os pequenos músculos da mão, atividades com os dedos como subir a escada de dedos, usar massinha, catar feijão, abotoar e desabotoar a camisa, etc… Além de exercícios para a mímica facial. Nestas atividades o maior desafio será motivar os pacientes, pois são atividades meio chatas.

Estas são apenas algumas sugestões de exercícios a serem realizados em grupo. Acho que dá pra ver que o leque de possibilidades de exercícios é enorme. Use a criatividade, dá pra fazer muito mais coisas do que as exemplificadas aqui.
Fazendo minha habitual busca na internet encontrei algumas coisas interessantes:

REFERÊNCIAS

[1] Kuroda, K.; Tatara, K.; Takatorige, T.; Shinsho, F. Effect of physical exercise on mortality in
patients with Parkinson’s disease. Acta Neurol. Scand. 1992, 86, 55–59

[2] Herman, T.; Giladi, N.; Gruendlinger, L.; Hausdorff, J.M. Six weeks of intensive treadmill
training improves gait and quality of life in patients with Parkinson’s disease: A pilot study. Arch.
Phys. Med. Rehabil. 2007, 88, 1154–1158.

[3] Nocera, J.R.; Altmann, L.J.P.; Sapienza, C.; Okun, M.S.; Hass, C.J. Can exercise improve
language and cognition in Parkinson’s disease? A case report. Neurocase 2010, 16, 301–306.

[4] Goodwin, V.A.; Richards, S.H.; Taylor, R.S.; Taylor, A.H.; Campbell, J.L. The effectiveness
of exercise interventions for people with Parkinson’s disease: A systematic review and
meta-analysis. Mov. Disord. 2008, 23, 631–640.

[5] Kuroda, K.; Tatara, K.; Takatorige, T.; Shinsho, F. Effect of physical exercise on mortality in
patients with Parkinson’s disease. Acta Neurol. Scand. 1992, 86, 55–59.

[6] Ashburn, A.; Fazakarley, L.; Ballinger, C.; Pickering, R.; McLellan, L.D.; Fitton, C.
A randomised controlled trial of a home based exercise programme to reduce the risk of falling
among people with Parkinson’s disease. J. Neurol. Neurosurg. Psychiatr. 2007, 78, 678–684

[7] Hirsch, M.A.; Toole, T.; Maitland, C.G.; Rider, R.A. The effects of balance training and
high-intensity resistance training on persons with idiopathic Parkinson’s disease. Arch. Phys.
Med. Rehabil. 2003, 84, 1109–1117.

[8] Li, F.; Harmer, P.; Fitzgerald, K.; Eckstrom, E.; Stock, R.; Galver, J.; Maddalozzo, G.; Batya, S.S.
Tai Chi and postural stability in patients with Parkinson’s disease. N. Engl. J. Med. 2012, 366,
511–519.

[9] Tousignant, M.; Corriveau, H.; Roy, P.M.; Desrosiers, J.; Dubuc, N.; Hebert, R. Efficacy of
supervised Tai Chi exercises versus conventional physical therapy exercises in fall prevention
for frail older adults: A randomized controlled trial. Disabil. Rehabil. 2012, doi:10.3109/
09638288.2012.737084.

[10] Li, F.; Harmer, P.; Fisher, K.J.; Xu, J.; Fitzgerald, K.; Vongjaturapat, N. Tai Chi-based exercise
for older adults with Parkinson’s disease: A pilot-program evaluation. J. Aging Phys. Act. 2007,
15, 139–151.

[11] Hackney, M.E.; Earhart, G.M. Tai Chi improves balance and mobility in people with Parkinson
disease. Gait Posture 2008, 28, 456–460.

[12] Li, F.; Harmer, P.; Fitzgerald, K.; Eckstrom, E.; Stock, R.; Galver, J.; Maddalozzo, G.; Batya, S.S.
Tai Chi and postural stability in patients with Parkinson’s disease. N. Engl. J. Med. 2012, 366,
511–519

An Evidence-Based Exercise Regimen for Patients with Mild to Moderate Parkinson’s Disease

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