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O envelhecimento de atletas é diferente do de sedentários?

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Quando pensamos em envelhecimento, uma das primeiras coisas que vem a mente é a perda de força muscular. Diversos artigos científicos demonstram que esses e outros déficits são comumente observados na população idosa. Para um leitor desatento, essas informações talvez possam dar a entender que a fraqueza muscular é conseqüência normal do envelhecimento. Entretanto, em um artigo publicado em 2011 no periódico The Physician and Sportsmedicine (Volume 39, Issue 3, September 2011,) intitulado: Chronic exercise preserves lean muscle mass in masters athletes (algo como “O exercício crônico preserva a massa muscular magra em atletas master”), os autores buscaram eliminar as variáveis ​“vida sedentária” e “desuso muscular” para investigar o que realmente acontece com nossos músculos à medida que envelhecemos mantendo um alto grau de atividade física.

Espero que achem essa pesquisa tão interessante quanto eu achei

Qual foi a amostra?

A amostra foi composta por quarenta atletas master (20 homens e 20 mulheres). Para serem incluídos no estudo, os participantes deveriam ter 40 anos ou mais de idade, ter o hábito de treinar para competições esportivas 4 a 5 vezes por semana. Os participantes foram compostos principalmente por corredores, ciclistas e nadadores.

 O que foi avaliado?

  1. Força muscular: Avaliada bilateralmente por meio de um teste de torque isométrico máximo voluntário do quadríceps usando um dinamômetro isocinético com o joelho posicionado a 75 ° de flexão.
  2. Composição corporal: O volume e a densidade corporal foram medidos com o Sistema de Composição Corporal Bod Pod. Este sistema usa pletismografia por deslocamento de ar para determinar a porcentagem de gordura corporal e massa magra.
  3. Imagens de ressonância magnética: Realizada RNM bilateralmente em ambas as coxas. Foram obtidas imagens da área muscular total da coxa e a área do quadríceps, o tecido adiposo subcutâneo e o tecido adiposo intramuscular

Principais resultados

Os 40 participantes (20 homens e 20 mulheres) foram divididos em 4 categorias de idade (40-49 anos, 50-59 anos, 60-69 anos e maiores de 70 anos). Cinco homens e 5 mulheres foram recrutados em cada categoria.

Os grupos de idade não difiram no peso corporal, porém o índice de massa corporal (IMC) tendeu a ser maior no grupo de 70 anos em comparação com o grupo de 40 a 49 anos. Aqueles com 70 anos apresentaram maior percentual de gordura. A massa magra não foi significativamente diferente entre as faixas etárias (P = 0,15). A área muscular total da coxa não foi diferente entre os grupos de idade (P = 0,12).

A área do quadríceps é aproximadamente 20% menor no grupo de 70 anos em comparação com os grupos de 40 a 49 anos e 50 a 59 anos (P = 0,03). O pico de torque Foi maior nos grupos mais jovens, sendo que quando os grupos 40 a 49 anos e 50 a 59 anos foram comparados aos dois grupos mais velhos, as diferenças foram estatisticamente significativas.  

Discussão

Acredita-se que com o envelhecimento ocorra um declínio inevitável da vitalidade, incluindo fraqueza e, muitas vezes, a perda da independência funcional. No entanto, esses declínios parecem ter mais a ver com escolhas de estilo de vida, incluindo vida sedentária e má nutrição, do que necessariamente com o envelhecimento musculoesquelético normal.

Este estudo mostra que somos capazes de preservar tanto a massa quanto a força muscular por toda a vida, desde que pratiquemos atividades físicas regularmente. Na amostra pesquisada, o exercício intenso crônico preservou a massa muscular e evitou a infiltração de gordura nos músculos em atletas masters. Embora mudanças na composição corporal tenham sido observadas não houve declínio na massa muscular absoluta e a infiltração de gordura do próprio músculo não aumentou. Esses achados contrastam com estudos conduzidos em homens e mulheres saudáveis com idade entre 70 e 79 anos, que não são considerados atletas.

Em um estudo realizado por Delmonico et al, relatou-se que tanto homens quanto mulheres idosos experimentaram um aumento na infiltração de gordura nos músculos da coxa. Isso contrasta com a imagem de Ressonância obtida no estudo com atletas masters. Aliás, mais importante talvez do que a mera retenção da massa muscular e integridade foi a retenção da força muscular nos atletas. Nesse estudo, os autores não observaram diferença no Pico de Torque do quadríceps até que os participantes entrassem na faixa etária de 60 a 69 anos.

Interessante notar que não houve diferença significativa na força muscular nas faixas etárias de 60, 70 e 80 anos. Assim, embora o Pico de Torque tenha diminuído a partir dos 60 anos de idade, o declínio não aumentou significativamente com o envelhecimento. Essa observação também foi verdadeira com o exame da força específica por área muscular. Nossos dados são consistentes com os de McCrory et al, que mediram a força muscular da coxa em atletas seniores com 60 anos. Quando comparados com controles saudáveis, eles descobriram que os atletas eram significativamente mais fortes do que os controles sedentários e que sua força não diminuía com a idade.

A maioria dos estudos anteriores examinou as mudanças na perda de massa muscular em adultos sedentários. Isso deixa a questão de se as mudanças comumente associadas ao envelhecimento muscular refletem a verdadeira fisiologia do envelhecimento muscular ou se refletem a atrofia por desuso. A avaliação de atletas masters remove o desuso como uma variável de confusão no estudo da função dos membros inferiores e perda de massa muscular magra.

Conclusão

A perda de massa muscular magra e a fraqueza subjetiva e objetiva sentida no envelhecimento são fatores modificáveis. Como clínicos da medicina esportiva, devemos encorajar as pessoas a se tornarem ou permanecerem ativas em todas as idades. Este estudo, e aqueles revisados aqui, documentam que é possível manter a massa muscular e a força através das idades por meio de mudanças simples no estilo de vida.

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