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Síndrome Piramidal – ou síndrome do neurônio motor superior

Como este é um blog direcionado para acadêmicos, decidi fazer uma breve revisão sobre a síndrome do neurônio motor superior, também conhecida como síndrome piramidal ou síndrome do primeiro neurônio motor. Se esta é a primeira vez que você ouve falar nestes nomes, não entre em pânico. Tentarei explicar do jeito mais descomplicado possível. Para entender esta síndrome, convém retornarmos a algumas noções de neuroanatomia e neurofisiologia do ato motor:

ENTENDENDO O PRIMEIRO NEURÔNIO

Para fins práticos, podemos considerar que após o planejamento do movimento voluntário no córtex cerebral o passo seguinte seja enviar estes comandos para os músculos de forma que eles possam pôr em prática o ato motor desejado. Para explicar como este processo acontece, vou tentar utilizar exemplos o mais didáticos possíveis. Neste momento não estou preocupado em descrever os detalhes do primeiro neurônio, mas sim um conceito geral para aqueles que estão tendo os primeiros contatos com neuroanatomia.

Para entendermos o primeiro neurônio, vamos imaginar que você queira levantar o braço esquerdo. Agora vamos supor que um único neurônio tenha sido escalado para transmitir esta mensagem (apenas para fins didáticos, pois no mundo real alguns milhares de neurônios são ativados toda vez que você desejar levantar o braço esquerdo). Assim, a mensagem vai partir do corpo celular deste neurônio hipotético (localizado no córtex cerebral) e continuar sua transmissão em um trajeto descendente ao longo do seu axônio até a medula espinhal, conforme a figura abaixo.

Em seu caminho em direção a medula, o neurônios motores convergem para uma região anatômica denominada “cápsula interna”. A cápsula interna é uma área de substância branca no cérebro que separa o núcleo caudado e o tálamo do núcleo lentiforme. Quando os neurônios motores alcançam o bulbo, eles se cruzam, trocando de lado (é por isso que o lado esquerdo do cérebro comanda o hemicorpo direito e vice-versa) e continuam seu trajeto descente agora já na medula espinhal.

Desta forma, é importante entendermos que uma vez decidido o ato motor, este comando será enviado para baixo, em uma viagem descendo todos os andares do encéfaloPronto, este é o primeiro neurônio motor! Uma única célula que comunica o córtex à medula por meio de vias e tractos descendentes (eferentes) O conjunto de todos estes primeiros neurônios é chamado de sistema piramidal .

Podemos definir o sistema piramidal como uma grande via eferente (uma via eferente é aquela que leva informações para fora do Sistema Nervoso Central – lembrete: Via Eferente = aquela via que vai Embora), responsável por levar as informações motoras do córtex cerebral até outros neurônios localizados na substância cinzenta na região ventral da medula. (outro lembrete: Para jamais esquecer que a região ventral ou anterior da medula é a região motora, basta lembrar-se de onde fica o motor de um carro = na frente [Observação importante: Fusca não é carro!!!!]).

Resumindo:
Informações motoras elaboradas no córtex cerebral são transmitidas por meio de vias descendentes até o neurônio motor inferior, também denominado segundo neurônio, sendo estas vias descendentes chamadas de via ou sistema piramidal. Detalhe importante: O corpo celular do primeiro neurônio localiza-se no córtex, e seu axônio é gigantesco, percorrendo todo um caminho descendente desde o córtex cerebral até a porção inferior da medula. Qualquer lesão a estes neurônios em qualquer parte de seu trajeto vai gerar um conjunto de sinais e sintomas bastante característicos, denominados de síndrome piramidal.
Classicamente, existe uma tríade de sintomas que são considerados como os principais indicadores da síndrome piramidal:

1- Sinal de Babinski.
Este é o nome da resposta alterada do reflexo cutâneo plantar. Este reflexo é pesquisado utilisando-se uma espátula ou outro material ligeiramente pontiagudo. Estimula-se a região plantar, próximo a borda lateral e no sentido póstero-anterior (ou seja: do clacanhar para os dedos)A resposta normal deste reflexo superficial é descrita como a flexão do hálux e dos demais dedos do pé. Após uma lesão das vias descendentes, a resposta alterada é descrita como extensão do hálux e abertura dos outros dedos em leque.

OBS: os mais puristas não gostam da expressão “sinal de Babinski Positivo”. Pois consideram que a denominação deve ser apenas se ele está presente ou ausente

2- Hiperreflexia Profunda:
Lesões do primeiro neurônio tornam os reflexos profundos aumentados (mais bruscos e amplos) em relação ao padrão normal da pessoa (essa observação é importante pelo fato de existir grande variação individual na intensidade dos reflexos profundos).

3- Hipertonia Espástica
O tônus muscular, definido como o estado de relativa tensão do músculo durante o repouso, encontra-se aumentado na síndrome piramidal, caracterizando a chamada hipertonia espástica, cuja fisiopatologia parece dever-se ao aumento de excitabilidade dos motoneurônios alfa e gama. Esta hipertonia é descrita como “velocidade-dependente”, sendo mais acentuada no inicio do movimento, cessando repentinamente, o que caracteriza clinicamente o clássico sinal do canivete.

Além desta tríade clássica, outros sinais estão associados à Síndrome Piramidal, como Clônus, aumento da área reflexógena, espasticidade e padrões de contração muscular em sinergias primitivas.
Naturalmente não dá pra esgotar este assunto em poucas linhas, mas este post foi elaborado como um referencial rápido (confesso que até rápido demais). Espero que possa ser complementado com observações dos leitores.

Pessoal, aqui em cima eu deixei o link para o Tratado de Neurologia Merrit, um dos livros que eu mais consulto para fazer as postagens sobre Neurologia. Sei que é meio caro (bastante ênfase nesse “meio”), mas vale cada centavo. Porém, uma outra opção com uma excelente relação custo X benefício é o livro Fisioterapia Neurológica escrito por Darcy Umphred. Um clássico das bibliotecas de fisioterapia!!! O link está aqui em baixo.
Bons estudos

REFERÊNCIAS

A VIA MOTORA CRUZADA: A DESCOBERTA DA DECUSSAÇÃO PIRAMIDAL 


Clinical Approach to Disease of the Spinal Cord

Mark H. Libenson, in Office Practice of Neurology (Second Edition), 2003

8 comentários em “Síndrome Piramidal – ou síndrome do neurônio motor superior”

    1. Obrigado pelo feedback Núbia.
      Vou me esforçar para me manter fiel aos lemas do site (que não por acaso são os mesmos da padaria aqui da esquina):
      “Servindo bem, para servir sempre” e “Feito com carinho”
      Obrigado e volte sempre

  1. shirley ramos da costa

    parabéns pela explicação tão top , deveras importante e bem elucidativa tornou minha vida mais fácil e simples obrigado por seu esforço para esclarecer dúvidas de forma tão realista e com toque simples.

  2. Excelente conteúdo, sou estudante de medicina e me ajudou muito!!!
    Obrigada pela explicação e por me fazer rir no “fusca não é carro” kkkkkkk

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