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Terapia manual, qual curso devo fazer: Maitland, Mulligan ou Mobilização Neural

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Qual curso devo fazer: Maitland, Mulligan ou Mobilização Neural?

Olá a todos,
Hoje decidi escrever um pouco sobre as técnicas de terapia manual, pois este é um assunto que gera muitas dúvidas principalmente entre alunos e colegas recém-formados. Não é de se admirar esta dúvida cruel, afinal de contas são cursos relativamente caros. É prudente se informar ao máximo pra não levar gato por lebre.
Sendo assim, hoje vou abordar brevemente três cursos bastante populares entre os alunos: o Conceito Maitland, o Conceito Mulligan e a Mobilização Neural.
Dito isso, vamos lá:

O Conceito Maitland
Quem tem contato com terapia manual australiana já ouviu falar que a “avaliação do Maitland” é muito boa. Na minha opinião este é o grande diferencial deste conceito. Em seu livro de manipulação vertebral, o próprio Maitland comenta que saber avaliar o paciente tanto em termos subjetivos quanto no exame físico é o ponto que determinará o sucesso do tratamento, e antes que preguntem minha opinião, adianto que isso não é força de expressão não!! De fato, quase metade de seu livro de mobilização vertebral é dedicada à arte da anamnese e do exame físico. Essa característica é mantida também no curso: muita ênfase na avaliação, na coleta de informações e no raciocínio clínico.
Aqui o primeiro aviso: saber avaliar é essencial para o Conceito Maitland. Se você fizer o curso e achar que isso é bobagem e na hora da explicação sair pra tomar um cafezinho, fumar um cigarro e ligar pra casa pra saber se sua avó foi fazer musculação, saiba você estará jogando dinheiro no lixo.
O exame físico envolve a mobilizações fisiológicas e acessórias aplicáveis à coluna e extremidades. Neste exame o fisioterapeuta deve estar atento à presença de dor, irritabilidade dos sintomas (se eles desaparecem rápido ou se persistem por longo período após a mobilização) e ao “end feel” dos movimentos fisiológicos e à rigidez dos movimentos acessórios. (esta última parte não tem jeito, a gente só aprende depois de praticar muito!!!)
Em resumo: O Conceito Maitland utiliza técnicas de mobilização articular aplicáveis à coluna e extremidades. O ponto forte deste conceito é a avaliação metódica não só dos achados do exame físico, mas principalmente os da avaliação subjetiva.

O Conceito Mulligan
Como já foi exposto em outra postagem deste blog, o conceito Mulligan faz uso de manuseios que envolvem a combinação de uma mobilização articular acessória associada ao movimento fisiológico ativo. O resultado esperado é o alívio imediato da dor e o aumento do arco de movimento. O legal deste conceito é que não é necessário um conhecimento profundo sobre biomecânica. Também como já foi dito, na minha opinião forte, o ponto forte (e ao mesmo tempo o ponto mais fraco do conceito) é a ausência de uma avaliação própria, sendo os manuseios aplicados na base da tentativa e erro. Quando combinado com o conceito Maitland, torna-se um aliado poderoso para o fisioterapeuta.

Mobilização Neural
A mobilização neural é um método de tratamento direcionado única e exclusivamente para disfunções do nervi nervorum. Complicou né? Mas eu explico. O nervi nervorum pode ser explicado como “o nervo do nervo”, ou seja: são terminações nervosas livres localizadas na bainha de tecido conjuntivo mais externa do nervo (o epineuro). Em condições normais, estas terminações são ativadas durante movimentos extremos como forma de prevenir o estiramento excessivo do nervo. Em algumas situações estas terminações tornam-se sensibilizadas durante movimentos normais. Quando elas se sensibilizam desta forma, causam dor e uma pequena contração muscular reflexa como forma de impedir o movimento do seguimento e proteger o nervo periférico de uma possível lesão. Assim, o conceito teórico deste método defende a idéia de que algumas disfunções ortopédicas que não respondem ao tratamento convencional (eletroterapia, terapia manual, medicamentos) podem ter como fator desencadeante uma sensibilização do nervi nervorum.
O grande lance desta técnica é que ela funciona como um ás na manga do fisioterapeuta. Ou seja: Com ela você é teoricamente capaz de tratar uma parcela específica de pacientes com disfunção do nervi nervorum (ou disfunção neural) os quais, de outra forma, não seriam tratados adequadamente por não terem o diagnóstico de sensibilização. No entanto, o problema com esta técnica é que ela não é abrangente, sendo específica para pacientes com disfunção neural. Na minha opinião, o curso tem melhor aproveitamento depois que o fisioterapeuta já tem uma certa estrada. Eu não aconselho que seja o primeiro curso de terapia manual a ser feito depois da formatura.

Termino esta postagem por aqui, mas antes uma analogia que muito me agrada:
Eu gosto de pensar que o fisioterapeuta deve ter uma caixa de ferramentas repleta de técnicas. Da mesma forma que um mecânico não consegue consertar um carro com apenas uma chave de fenda (na verdade se o problema for muito simples ele até consegue sim), o fisioterapeuta não consegue atender bem seus pacientes com apenas uma técnica em sua caixa de ferramentas. Devemos sempre buscar conhecer novas ferramentas para deixar nossa caixa bem robusta e conseguir consertar carros cada vez mais complexos. Viu só? Fisioterapia também é filosofia

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