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Teste de Hawkins-Kennedy para o ombro

O exame físico é o elemento central na avaliação ortopédica do ombro. Nós fisioterapeutas, precisamos ser bastante criteriosos não só ao realizar os testes ortopédicos, mas também (e principalmente), ao interpretá-los. O complexo do ombro é composto por diversas estruturas que eventualmente podem ser fontes de dor. Em diversos quadros dolorosos do ombro é comum que múltiplas estruturas estejam contribuindo para o quadro álgico e/ou disfunção de nossos pacientes. Por isso, compreender a biomecânica e a anatomia envolvidas no teste é tão importante quanto a correta aplicação do teste.

O objetivo dessa postagem é lançar um olhar sobre um dos testes mais utilizados para identificar a síndrome do impacto subacromial: o teste de Hawkins-Kennedy.

Síndrome do impacto coracoacromial

Existem vários testes descritos na literatura desenvolvidos com o objetivo de avaliar as diferentes estruturas do complexo do ombro. Um dos mais famosos é o teste de Hawkins –Kennedy. Esse teste, descrito originalmente em 1980, é utilizado para identificar a compressão patológica os tecidos moles interpostos entre a tuberosidade maior do úmero e arco coracoacromial. (HAWKINS, R. J.; KENNEDY, J. C. Impingement syndrome in athletes. Am J Sports Med, v. 8, p. 151-8, 1980.)

A síndrome do impacto é uma condição dolorosa do ombro, caracterizada por alterações inflamatórias e degenerativas causadas por impactação mecânica das estruturas que se localizam no espaço umerocoracoacromial, especialmente o tendão do supraespinhal, o tendão da cabeça longa do bíceps, a bursa subacromial e a articulação acromioclavicular

É importante notar que esta é uma condição que está associada ao movimento ativo do ombro, então, melhorando um pouco mais a definição anterior, podemos entender que a síndrome do impacto ocorre quando as estruturas subacromiais são ativamente colocadas em contato com o acrômio e ligamento coracoacromial durante o ato de elevar o braço.

Assim, a síndrome do impacto é normalmente acompanhada por microtraumatismos e degeneração, além do déficit de força muscular e tendinite do manguito rotador

Teste de Hawkins-Kennedy

Dependendo da fonte pesquisada, pode haver pequenas variações na metodologia de realização do teste, nessa postagem, vou descrever a forma que eu considero a de melhor reprodutibilidade:

[1] Paciente de pé ou sentado. 

[2] Fisioterapeuta posiciona o ombro do paciente em 90 graus de flexão, com o cotovelo também flexionado a 90 graus. Em seguida, o fisioterapeuta apóia sua mão sobre o ombro que será testado (assim estabiliza o membro superior e garante 90 graus de flexão) e com a outra mão gira internamente o braço do paciente de forma passiva. Se o paciente apresentar dor com rotação interna, o teste é considerado positivo.

Teste de Hawkins-Kennedy

Biomecânica do teste:

Posicionar o ombro em 90 graus de flexão associada a rotação interna, promove a redução do espaço entre a cabeça do úmero e a parte inferior do processo acrômio, promovendo assim a compressão dos tecidos moles interpostos (Como por ex: tendão supraespinhal e a bolsa subacromial), provocando uma resposta dolorosa.

É importante observar que esse teste realizado sozinho não apresenta uma boa precisão diagnóstica e deve ser combinado com outros testes para que o diagnóstico seja confirmado.

O teste de Hawkins-Kennedy é confiável?

Eu diria que isoladamente esse teste deixa a desejar. O ideal é que esse teste seja combinado com outros testes ortopédicos para que seja mais confiável. Digo isso com base nos valores de sensibilidade e especificidade atribuídos a esta manobra: A sensibilidade do teste é de 79% e a especificidade é de 59%,

Lembrando :

Sensibilidade: 0,79.
A sensibilidade é a proporção de pessoas com um resultado positivo no teste de Hawkins-Kennedy e que realmente possuem impacto subacromial, ou seja, de diagnosticar corretamente as pessoas com síndrome do impacto. O teste de Hawkins-Kennedy possui 79% de chance de identificar um paciente com problemas de impacto no ombro (interpretando por outro ponto de vista: 21% de chance do teste ser positivo mesmo em uma pessoa que não tem problemas de impacto no ombro).

Especificidade: 0,59
A especificidade é a proporção de pessoas com um resultado negativo no teste de Hawkins-Kennedy e que de fato não possuem problemas de ombro relacionados ao impacto. Basicamente verdadeiros negativos. Em outras palavras: Existe uma chance de 59% de um indivíduo sem impacto subacromial ter seu teste normal (interpretando por outro ponto de vista: 41% de chance do teste ser negativo e a pessoa ter um problema de impacto).

Por esse motivo, para um diagnóstico mais preciso, o teste de Hawkins-Kennedy deve ser interpretado em conjunto com outros testes ortopédicos.

Referência

Hegedus EJ, Goode A, Campbell S, et alPhysical examination tests of the shoulder: a systematic review with meta-analysis of individual testsBritish Journal of Sports Medicine 2008;42:80-92

1 comentário em “Teste de Hawkins-Kennedy para o ombro”

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